Entrada em serviço dos eVTOLs traz inovação ao controle de tráfego aéreo

Por André Arruda

As grandes cidades convivem com um espaço aéreo muitas vezes congestionado, ocupado por aeronaves comerciais e aviação geral, incluindo aeronaves leves, jatos executivos e helicópteros. Mais recentemente, as aeronaves remotamente pilotadas também têm ganhado os céus urbanos, em aplicações cada vez mais frequentes.

Divulgação/Nasa

Nesse cenário, a nova geração de eVTOLs (veículos elétricos de decolagem e pouso vertical) e sua operação no contexto Urban Air Mobility (UAM) trazem desafios inéditos no âmbito do gerenciamento de tráfego aéreo (ATM, Air Traffic Management, em inglês) e adoção de novas tecnologias.

A questão é crítica não apenas à entrada em serviço dos eVTOLs, mas principalmente para a escalabilidade dessa tecnologia disruptiva. A discussão envolve diferentes setores: indústria aeronáutica, operadores, órgãos regulatórios e de controle do espaço aéreo, fornecedores de tecnologia e software, além da comunidade beneficiada por essa operação.

O desafio é estabelecer um sistema de controle do espaço aéreo capaz de absorver a quantidade de voos prevista para os eVTOLs, já que o modelo atual apresenta grande dependência da comunicação e intervenção humana. Em larga escala, isso significa multiplicar órgãos de controle e pessoas envolvidas, tornando o gerenciamento de tráfego inviável.

É, portanto, necessária uma nova abordagem para harmonizar o tráfego eVTOL previsto, garantindo a segurança das operações.

Agências reguladoras e indústria, em diferentes países, têm direcionado esforços para desenvolver a estrutura regulatória e tecnologia que permitam essa integração dos eVTOLs ao espaço aéreo.

No Brasil, o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) trabalha em um modelo que exija menor intervenção humana para garantir a separação das aeronaves, antecipando a futura operação de eVTOLs no país. A tecnologia é uma chave estratégica nesse cenário, permitindo a escalada das operações sem multiplicar a intervenção humana no controle de tráfego aéreo.

Nesse contexto, empresas de tecnologia tem buscado soluções automatizadas para essa aplicação. É o caso, por exemplo, da Atech, pertencente ao grupo Embraer, e do grupo Thales. A sueca Saab também tem trabalhado em tecnologias para controle de tráfego remoto, permitindo esse gerenciamento em locais onde não é viável a instalação de torres de controle.

Esse tipo de iniciativa tem mobilizado o ecossistema envolvendo os eVTOLs para objetivos comuns. Um exemplo é a colaboração, anunciada em outubro deste ano, da Eve Air Mobility com a Skyway Technologies para desenvolvimento de software dedicado ao gerenciamento de tráfego aéreo urbano (UATM, Urban Air Traffic Management). A meta é assegurar que o controle de tráfego dos eVTOLs possa suportar a necessidade e crescimento da indústria.

O uso de tecnologia para gerenciamento do tráfego vai ao encontro de soluções já aplicadas em menor escala às aeronaves não tripuladas, em fase de implantação em diferentes países. Para esse mercado, o conceito UTM (Unmanned Aircraft System Traffic Management), vem sendo desenvolvido para criar um ecossistema de gerenciamento de tráfego dedicado aos drones, operando em baixa altitude.

Na Europa, a autoridade europeia European Union Aviation Safety Agency (EASA) trabalha na implementação do U-space (UTM europeu), baseado no compartilhamento de informações e automação. Apesar das diferentes formas de operacionalização entre países e regiões, o sistema deve estar integrado ao gerenciamento de tráfego aéreo tradicional, para garantir confiabilidade e evitar colisões aéreas.

No Brasil, o cenário não é diferente. Em setembro, o DECEA publicou a portaria nº 439/DNOR8, aprovando a Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA) 351-6 que estabelece o conceito de operações do BR-UTM (UTM Brasileiro). O sistema tem o objetivo de promover o gerenciamento das aeronaves não tripuladas, mediante integração colaborativa de seres humanos, informação, tecnologia, instalações e serviços apoiados em CNS (Communication, Navigation and Surveillance, isto é, comunicação, navegação e monitoramento, em inglês).

O UTM foi inicialmente concebido para englobar as operações de drones, inclusive em ambientes urbanos, em aplicações como delivery de encomendas, monitoramento, segurança, inspeção ou mapeamento. Levando esse mesmo conceito aos eVTOLs, o desafio é aplicar tecnologias similares em um ecossistema mais desafiador e de maior escala, incluindo níveis de segurança e requisitos de certificação equivalentes aos da aviação tradicional.

Com o esforço conjunto da indústria e autoridades aeronáuticas nesse sentido, será possível implementar soluções automatizadas, que minimizem a intervenção humana no controle de tráfego aéreo. Teremos, assim, a inserção definitiva dos eVTOLs nos centros urbanos, em operações escaláveis, eficientes e seguras.

Artigo publicado originalmente no Portal AirConnected.

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