Vertihubs: projeto de Vertiportos integrados à mobilidade urbana

Por André Arruda

Enquanto Autoridades Aeronáuticas e indústria discutem o projeto, construção e certificação dos eVTOLs, os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical, o planejamento das grandes cidades se prepara para os desafios dessa nova era da mobilidade urbana.

Divulgação/Volocopter

Há cada vez menos espaço disponível nas metrópoles, especialmente em áreas centrais, mais concorridas e, portanto, mais caras para acesso e construção de infraestrutura. A estrutura para embarque e desembarque de passageiros e cargas nos eVTOLs deve ser mais do que apenas um espaço exclusivo para sua operação. É preciso ir além e idealizar os eVTOLs como uma parte de um sistema integrado de mobilidade urbana.

Assim como na operação de helicópteros, decolagens e pousos não ocorrem necessariamente na origem ou destino final do passageiro. É preciso percorrer outros trechos terrestres, para acesso ou saída dos helipontos. Não será diferente com os Vertiportos, dedicados à operação em escala dos eVTOLs.

A expectativa é que os eVTOLs sejam um meio de transporte mais acessível do que são os helicópteros, o que implica em um público mais amplo. Um público que, hoje, emprega modais de massa para se locomover nas grandes cidades e que poderá, em breve, vencer parte do trajeto pelo ar.

Por se tratar de uma nova tecnologia, incluindo estrutura com padrões aeronáuticos bastante específicos, é necessário otimizar o uso desse espaço dedicado aos eVTOLs. Nesse sentido, um novo termo foi trazido para esse ecossistema: Vertihubs. A ideia traz a transformação dos Vertiportos em hubs de mobilidade urbana.

Muito além de Vertiportos: uma infraestrutura harmonizada aos demais modais de transporte. Temos em frente uma oportunidade única para começar as operações de maneira alinhada às melhores práticas de mobilidade urbana, criando uma sinergia intermodal. Por essa razão, a escolha do local de construção de um Vertihub é fundamental.

Com o objetivo de estudar as principais necessidades da população europeia e aceitação do ecossistema de Vertiportos e Mobilidade Aérea Urbana, a autoridade europeia European Union Aviation Safety Agency (EASA) conduziu um estudo junto da consultoria da McKinsey & Company e da Arup Sound Lab. De acordo com a análise, a ocupação espacial no centro de grandes cidades pelo ecossistema Urban Air Mobility (UAM), bem como o tráfego adicional para acesso aos Vertiportos, aparecem entre as 3 maiores preocupações, para mais de 10% dos entrevistados. Em primeiro e segundo lugar, na pesquisa, figuram a preocupação com a segurança e ruído causado pelos Vertihubs, para mais de 30% dos entrevistados.

Para atender à necessidade do fluxo de pessoas, evitando tráfego adicional, um Vertihub deverá permitir que passageiros cheguem e saiam a partir de transportes de massa variados, como ônibus urbanos, metrôs e trens. E que tais passageiros também possam estender a viagem em transportes intermunicipais ou mesmo acessar aeroportos de maneira ágil. Evidente, esse planejamento exigirá uma atuação próxima ao poder público, que deverá compreender os eVTOLs como um modal integrado às cidades.

Ainda no sentido de orientar a localização e estruturação dos Vertiportos, a autoridade norte-americana Federal Aviation Administration (FAA) publicou no último dia 26 de setembro uma atualização das diretrizes para Vertiportos e infraestrutura de suporte para aeronaves incluídas no ecossistema Advanced Air Mobility (AAM). Os padrões publicados servirão como passo inicial a prover informações chave para proprietários de Vertiportos, operadores e desenvolvedores de infraestrutura de solo, para desenvolver as bases que suportarão operações eVTOL de maneira otimizada.

Tais iniciativas por parte das autoridades está alinhada com a promessa de uma tecnologia limpa, com mínimo de impacto possível sobre o meio ambiente e ecossistema das cidades. Ao projetar um Vertihub multimodal, será possível oferecer ao passageiro uma jornada limpa, sendo o eVTOL apenas uma parte do caminho.

Considerando o aspecto ambiental, é fundamental também projetar os Vertihubs com a presença de estações de bicicletas e patinetes compartilhados, ou estacionamento para esses veículos que sejam de propriedade do passageiro. Um exemplo dessa abordagem tem sido aplicado, em menor escala, na entrega de produtos com Drones (Drone Delivery), realizada pelo iFood entre Aracaju e Barra dos Coqueiros, em Sergipe. A partir do Droneporto de retirada, o entregador segue para entrega nos modais tradicionais (moto, bicicleta ou patinete) para transporte dos produtos até a casa dos clientes. Os Drones são projetados e operadores pela Speedbird Aero, com RPAs (Aeronaves Remotamente Pilotadas) certificadas pela AL Drones, consultoria especializada na autorização ANAC desses equipamentos.

Há diferentes aspectos a serem levados em conta na concepção dos Vertihubs, mas certamente a integração intermodal é chave para o sucesso das operações. As grandes cidades necessitam de um meio de transporte que responda aos desafios crescentes da mobilidade, trazendo uma solução inovadora e complementar aos modais atuais.

Artigo publicado originalmente no Portal AirConnected.

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