Artigo: Projeto de vertiportos e integração urbana traz novos desafios à operação dos eVTOLs

Por André Arruda

As grandes cidades serão as primeiras a conviver com os eVTOLs, os veículos elétricos de decolagem e pouso vertical. São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Tóquio, Nova York e outras metrópoles estão na lista dos possíveis precursores dessa tecnologia disruptiva. No entanto, para que os eVTOL ganhem os céus de maneira definitiva, é fundamental que o ambiente da cidade possa recebê-los de maneira integrada e harmônica em relação à infraestrutura de solo.

Vertiporto
Projeção gráfica de um vertiporto. Foto: Divulgação/Skyports

Essa infraestrutura em terra será muito além de um local para pouso e decolagem dessas aeronaves. Ela deve estar intimamente integrada à estrutura das cidades para permitir uma operação satisfatória e segura aos passageiros. A segurança deve ser garantida tanto aos passageiros embarcados, quanto ao ambiente de solo envolvendo essa operação. Um grande desafio para Autoridades Aeronáuticas e indústria.

É nesse ambiente que o conceito de Vertiporto foi concebido, e deverá em breve abrigar a operação dos eVTOLs. Essas estruturas estão sendo pensadas e projetadas nos últimos anos, envolvendo indústria e Autoridades. Apesar de apresentarem um paralelo com os atuais helipontos, os Vertiportos devem incluir uma estrutura mais complexa, envolvendo embarque regular de passageiros e tecnologias a serem implementadas no futuro, como pouso de precisão por instrumentos.

Em função dessas exigências bastante particulares, Autoridades Aeronáuticas têm buscado parâmetros para o desenvolvimento e operação segura dos Vertiportos. Não por acaso, a Autoridade europeia European Union Aviation Safety Agency (EASA) e norte-americana Federal Aviation Administration (FAA) já publicaram documentos dedicados ao projeto e requisitos dessas estruturas.

Em março de 2022, a EASA publicou o Prototype Technical Design Specifications for Vertiports (PTS-VPT-DSN), um documento gerado em conjunto com fabricantes de eVTOLs e empresas dedicadas aos Vertiportos. A proposta da EASA é desenvolver o regulamento para os Vertiportos em dois estágios, sendo a primeira etapa consolidada com o documento preliminar recém-publicado.

Apesar de ainda ser uma publicação inicial, a ser atualizada nos próximos anos, o PTS-VPT-DSN traz conceitos fundamentais para a operação dos Vertiportos. Um desses aspectos é uma preocupação com a área de funil acima do Vertiporto, designada pela EASA como “volume livre de obstáculos”. De acordo com a agência, esse conceito é compatível à operação dos eVTOLs em sua aproximação para pouso e saída após decolagem.

Similarmente, a FAA publicou em junho deste ano a versão preliminar do Engineering Brief EB-105, com o objetivo de prover um guia inicial ao desenvolvimento de infraestrutura de Vertiportos. Este documento deverá evoluir com o avanço da tecnologia, à medida que certas limitações serão vencidas com o tempo. O EB-105 limita a operação dos Vertiportos a eVTOLs tripulados, em condições de voo visual e dentro de características e desempenho sugeridos no documento.

Revisões futuras do EB-105 prometem a inclusão de VTOLs mais complexos, com Peso Máximo de Decolagem acima de 3.000 kg e capacidade para voo por instrumentos IFR (Instrument Flight Rules), ainda não previstos atualmente.

Um dos desafios previstos pelas Autoridades e indústria para os Vertiportos é prover fonte elétrica adequada à capacidade de recarga exigida pelos eVTOLs, para que possam realizar o carregamento de suas baterias de maneira satisfatória. Por esse motivo, o documento norte-americano se adianta e aponta aspectos que devem ser considerados no projeto desses terminais.

No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) acompanha o assunto desde abril de 2021, quando criou o grupo de trabalho dentro de sua Superintendência de Infraestrutura Aeroportuária (SIA). Esse grupo está atento aos documentos de agências internacionais e tem o objetivo de identificar mudanças regulatórias relacionadas à infraestrutura para operação segura dos eVTOLs na mobilidade aérea urbana.

É notável o esforço do setor aeronáutico para acompanhar o avanço da mobilidade aérea urbana. Essa energia mobilizada é a chave para que a sociedade possa usufruir em breve dos benefícios que os eVTOLs trarão ao ambiente urbano, elevando o modal de transporte de passageiros e carga a um novo patamar.

Artigo publicado originalmente no Portal AirConnected.

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